O que é o belo, afinal, senão algo provido de significados?
- Ana Luísa Vahl Dias

- 5 de jun. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de jun. de 2023
Platão traz em sua obra que o belo está ligado à perfeição e só pode ser contemplado em sua essência quando há uma evolução filosófica e cognitiva por meio da razão, a qual proporciona conhecer a verdade harmônica do cosmos. Aristóteles caracteriza o belo como o esplendor da ordem. Da Vinci defende que o belo está diretamente conectado às regras mais profundas da arte.

Belo adjetivo
que tem formas e proporções harmônicas; bonito. "b. escultura"
que produz uma viva impressão de deleite e admiração. "descortinava-se um b. panorama"
Em essência, o belo nos toca, faz sentir e demonstra a grandiosidade da vida caso a gente se permita apreciar. Ele é o responsável por abrir o caminho à percepção do cosmos em sua completude e à evolução da consciência humana. Quando não estamos tentando controlar ou forçar a beleza é quando temos a verdadeira contemplação de seu explendor. Ela é subjetiva e diversa; ela está presente no ser, em cada partícula que constrói o universo.
Se abrir para a verdadeira compreensão e contemplação do belo abre caminho para uma nova forma de perceber o existir.
Muito mais do que filtros e harmonizações que padronizam a beleza humana, o belo se encontra na proporção áurea perfeita de uma concha ou na cadência de raios ambientados pela tempestade. Ela está presente na ordem, mas também no caos; no que conforta e, principalmente, no que causa desconforto. A beleza está no rap e na poesia, no ballet e no funk. A beleza está no perfeito e no imperfeito. O universo tem seu início no caos e sua beleza vem do fluir adaptável natural presente no encontro entre os elementos formadores de tudo o que há. A beleza não é apenas vista, ela é sentida. Existe beleza no amor, na dor, no mar e no deserto, afinal.
Tentamos controlar e definir o belo de forma rígida e padronizada desde que a sociedade, como a conhecemos hoje, teve seu início, não só nas artes, mas no dia a dia das pessoas - o que pode ou não ser belo, o que é ou não apreciável, o que é digno ou não de contemplação, o que possui valor. Esse controle do belo é diretamente proveniente do medo humano do incompreensível; somos medrosos por instinto e por doutrinação, por isso forçamos a definição de padrões e normas, ainda mais sobre coisas tão impalpáveis quanto o belo.
Temos medo do que conhecemos e mais medo ainda do que não conhecemos; do que entendemos e do que não temos capacidade de entender; do que é próximo e mais ainda do que nos é distante.
Temos medo de sermos pouco, por isso buscamos o poder que pode, quem sabe, nos tornar muito ~apreciáveis.
Quando alcançamos o poder, percebemos que não nos tornamos nada além do que já éramos e tentamos controlar tudo ao nosso redor para que nada possa nos atingir e destruir o falso castelo construído com tanto esforço. Desde pequenos aprendemos que o controle e a previsibilidade devem ser norteadores de nossas vidas. Isso nos afasta de tudo o que nos causa desconforto, nos é desconhecido ou incompreensível e, logicamente, a subjetividade entra nesse pacote.
A beleza nos ensinada é diretamente conectada à razão, à ordem e a regras, o que demonstra a nossa ardente aversão ao incontrolável e incompreensível, porque tal nos afasta do poder constituído no desejo egóico de ser mais ~belo~ do que o outro.
Não que não sejam necessárias regras e direcionamentos para que a infinidade de diferentes seres possam conviver em harmonia social, mas assim como a natureza, o ser humano também se adapta e se transforma em contato com o diferente, tornando-se ainda mais expandido, sendo capaz de acessar lugares profundos de si e se entender ainda mais parte do todo quando se coloca num lugar de experienciador, sem julgamentos.
Somos diferentes e complementares, essa é nossa essência; é daí que surge a beleza em essência. Nós apreciamos o belo enquanto essência desde que nos entendemos por gente: deixamos nossa história desenhada pelas rochas, pintamos e decoramos utensílios úteis, reproduzimos paisagens, fotografamos momentos.
A sutileza do sentir é diretamente conectada ao belo e é através dessa conexão que alcançamos o ápice do nosso existir.
Ao desconectar a beleza do capital, admirando-a por si só em cada momento presente e aplicando-a no nosso dia-a-dia, é possível entender o sopro de vida que nos move. Os diferentes tipos de beleza nos permitem acessar universos dentro de nós, remover padrões, ressignificar os dias. Tudo é belo quando se está aberto e presente para enxergar e absorver.
Ao dedicar tempo para contemplar, desprovidos de pré julgamentos, nos conectamos com um existir pleno, formado por diversas experiências e percepções inimagináveis. O que nos incomoda carrega consigo uma beleza que liberta, pronta para nos mostrar algo novo sobre o existir. Existir no belo significa abrir mão do controle e experienciar a vida plenamente de forma consciente.
O que é o feio, afinal, senão algo desprovido de significados?
O que é o belo, afinal, senão algo provido de significados?
A discussão sobre a beleza é densa e ainda existem diversas variações sobre o mesmo tema.








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